Há 51 anos, Black Power tomava pódio olímpico no México
- Torcedor Cultural
- 15 de out. de 2019
- 3 min de leitura
Iniciativa de dois atletas afro-americanos, de levantar o punho no pódio, redefiniu conceito de ativismo no Esporte
Por Fábio Tubino
Neste 12 de outubro, completou se 51 anos dos Jogos México 68. A imagem marcante foi com Tommie Smith e John Carlos, ouro e bronze nos 200 metros rasos, que após receberem suas medalhas no pódio, levantaram seus braços com as mãos cobertas por luvas negras e punhos fechados . Pela primeira vez o número de nações participantes passava da centena, numa demonstração de prestígio, conquistado pelos Jogos Olímpicos. O evento conseguiu atrair 112 países, num total de 5.516 atletas, sendo 781 do sexo feminino.
O Movimento Bblack Power

A atitude dos atletas afro-americanos no pódio, aconteceu num dia 16 de outubro de 1968, tornando -se uma das imagens mais impressionantes do Século XX. Os Estados Unidos já tinham vivido uma comoção por conta dos assassinatos de Martin Luther King e do candidato à presidência Robert F. Kennedy. Smith venceu os 200 metros livres estabelecendo então um novo recorde mundial (19,83 segundos), com Carlos conquistando o bronze atrás do australiano Peter Norman. Na entrega das medalhas, Smith e Carlos fizeram o protesto no pódio, uma ação preparada antes do início dos Jogos Olímpicos. Os dois atletas eram ativistas desde a etapa na Universidade Estatal de San José, na Califórnia, onde faziam parte do Projeto Olímpico pelos Direitos Humanos, criado pelo sociólogo Harry Edwards. Ambos receberam suas medalhas descalços, simbolizando a pobreza dos negros nos Estados Unidos. Smith vestiu um cachecol preto para refletir o orgulho negro, enquanto Carlos levava consigo um colar de contas para representar as pessoas que foram linchadas ou assassinadas . A princípio, ambos tinham planejado levar um par de luvas pretas cada um, mas Carlos esqueceu as suas e os dois acabaram compartilhando as de Smith. Na realidade, as repercussões contra Smith e Carlos foram duras. Avery Brundag, presidente do Comitê Olímpico Internacional, na oportunidade, determinou que ambos deixassem a Olimpíada. Um porta-voz da entidade descreveu o ato como "uma violenta brecha do espírito olímpico". Em dois dias, o Comitê Olímpico dos Estados Unidos aceitou o pedido do COI, mandando Carlos e Smith embora. Foram recebidos como traidores, inclusive sendo ameaçados de morte. Carlos atribuiu o suicídio de sua esposa Kim, em 1977, às turbulentas consequências da controvérsia. O velocista qualificou a perda da mulher como a maior tristeza de sua vida.
Um ano de acontecimentos
O ano de 1968 foi um ano bastante movimentado mundialmente com a Guerra do Vietnã, a Revolução Cultural na China, a invasão soviética da Tchecoslováquia tendo como consequência a Primavera de Praga, O México também deu sua contribuição ao clima que marcava esta época, quando tropas federais do governo reprimiram com violência centenas de estudantes durante manifestações na Praça das Três Culturas, dez dias antes da Cerimônia de Abertura dos Jogos, . O Massacre de Tlatelolco, quase provocou o cancelamento do evento.
A Altitude foi determinante nos Jogos
Pela primeira vez os Jogos foram sediados na América Latina e a altitude de 2.300m acima do nível do mar da capital mexicana gerou controvérsias a respeito dos danos que o ar mais rarefeito poderia causar no desempenho dos atletas. Realmente, a altitude prejudicou o desempenho nas provas de resistência e de longa distância, como o Ciclismo, a Natação e a Maratona, mas em compensação ajudou a provocar uma chuva de recordes mundiais e olímpicos nos eventos mais curtos e de esforço mais rápido como as corridas de menos de 800m
O Percurso da Tocha
Nesta edição o percurso da tocha olímpica seguiu a mesma rota feita pelo navegador Cristóvão Colombo quando descobriu a América, saindo da Espanha, passando pelas Bahamas até chegar a Vera Cruz na costa mexicana. A conclusão do revezamento trouxe pela primeira vez na história uma mulher,– a atleta Enriqueta Basílio, que entrou no estádio carregando a tocha para acender a pira olímpica.
Os destaques do Brasil
Nelson Prudêncio,foi um dos grandes destaques do Brasil nos Jogos, justamente na disputa em que o recorde mundial do Salto Triplo foi posto à prova seguidamente. Antes, Prudêncio nunca tinha saltado perto de 16,50m. Entretanto, surpreendeu a todos quando teve início uma batalha com o soviético Viktor Saneyev e o italiano Giuseppe Gentile. Os três quebraram o recorde mundial incríveis nove vezes em um único dia. Ao fim, Saneyev conquistou o ouro e com o recorde mundial (17,39m). Nelson Prudêncio garantiu a prata (17,27m) e Gentile, o bronze (17,22m). O pódio de Nelson Prudêncio seria acompanhado por outros dois bronzes do Brasil na Cidade do México. No Boxe, Servílio de Oliveira travou um combate muito equilibrado com o mexicano Ricardo Delgado, decidido pelos juízes. Eles deram vitória ao representante do México, que, na decisão, derrotou o polonês Artur Olech. Servílio ficou com o bronze. Além do Atletismo e do Boxe, a Vela brasileira também fez bonito, com Reinaldo Conrad e Bukhard Cordes, que conquistaram o bronze na classe Flying Dutchman.
Sem dúvida, os Jogos México 68 foram marcantes na história Olímpica mundial.
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