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Abebe Bikila, o Etíope bicampeão Olímpico e herói africano

  • Foto do escritor: Torcedor Cultural
    Torcedor Cultural
  • 29 de out. de 2019
  • 3 min de leitura

Com os pés descalços correu pela honra de seu povo, dando início a uma linhagem de grandes atletas olímpicos


Por Vilmar Vale


Na sequencia de matérias destacando os grandes atletas olímpicos da história, hoje temos Abebe Bikila

Foto: Reprodução

A Origem humilde


Ao sul da Etiópia, na pequena vila de Jato, em uma família muito pobre e simples, filho de um pastor de ovelhas, nasceu Abebe Bikila, em 7 de agosto de 1932. Aos 17 anos alistou-se no exército etíope, muito mais para garantir seu sustento do que por vocação, descobrindo aí seu talento nato para o atletismo. Nesse momento, foi fundamental a presença do treinador Onni Niskanen, finlandês, naturalizado sueco e contratado pelo imperador Haile Salassie para treinar oficiais da Guarda Imperial e descobrir talentos esportivos pelo país, que teve sensibilidade e paciência para perceber e lapidar o verdadeiro diamante bruto que tinha em mãos até transformá-lo na joia preciosa que iria conquistar o mundo. Para isso, apostou em exercícios de basquete, fortalecimento a base de banhos de sauna, corridas em estrada e, principalmente, estudos sobre a performance obtida por Bikila (sempre mais rápido) correndo descalço. Esta se tornaria sua marca registrada na Olimpíada de Roma.


Olimpíada de Roma/ 1960


Em julho de 1960, durante os Jogos Militares locais, Abebe Bikila, já com 27 anos, venceu o compatriota Wami Biratu, até então o mais rápido da Etiópia, embora distante do recorde olímpico da lenda tcheca, Emil Zatopek, de 2h23. No dia 25 de julho, na disputa de uma bateria classificatória para os Jogos, Bikila bateu o recorde de Zatopek, alcançando 2h21. Esse resultado foi decisivo para incluí-lo na equipe etíope como uma esperança de vitória (apesar de seus 1,77m e 57 kg), já que Wami Biratu, com complicações sérias de saúde, estava fora da Olimpíada. No dia da competição, em Roma, Bikila causou estranheza ao perfilar descalço na pista de atletismo.

Sem conseguir adaptar-se aos tênis oferecidos pelo patrocinador dos Jogos, optou por correr descalço, atitude permitida, à época, pela Organização. Única Olimpíada em que a Maratona não iniciou e nem terminou no estádio olímpico, ela também testemunhou o nascimento de um de seus maiores atletas. A prova, disputada pela primeira vez a noite, contou com 69 competidores. Após 2h25m16s, Bikila estabelecia novo recorde, batendo Zatopek e o russo Sergei Popov, correndo em uma Roma iluminada por tochas e incrédula

com o feito daquele atleta, até então desconhecido. Nascia o mito da “Flecha de Ébano” com a primeira medalha de ouro de um atleta da África Subsaariana. Surgia assim o herói etíope, símbolo de uma igualdade esportiva possível entre atletas do mundo inteiro.


Olimpíada de Tókio/ 1964


Em 1961, Bikila disputa e vence as Maratonas da Grécia, Japão e Tchecoslováquia. Em 1963, corre a Maratona de Boston e chega em 5º lugar (única maratona que não venceu). Faltando quarenta dias para a Olimpíada de Tókio, Abebe Bikila foi diagnosticado com apendicite aguda e é obrigado a passar por procedimento cirúrgico.

Apenas seis semanas depois de sua cirurgia, Bikila entra na prova, desta vez calçado por exigência da Organização, e repete a estratégia de Roma correndo no primeiro pelotão. Surpreendendo a todos, entra de volta no estádio com quatro minutos de vantagem

sobre os competidores mais próximos e estabelece novo recorde olímpico, com 2h12m12s, ganhando sua segunda medalha de ouro na modalidade.


Um Destino


Foto: Reprodução

Na edição de 1968, Jogos Olímpicos da Cidade do México, Abebe Bikila e Mamo Wolde representam a Etiópia na disputa da prova de Maratona. Bikila abandona no km 17, sentindo o joelho, mas assiste à vitória do compatriota Mamo Wolde, que mantém a hegemonia

etíope na prova. Em 1969, no meio de uma manifestação civil na capital, Bikila sofre grave acidente automobilístico com o carro que havia ganho do governo e fica paralítico, preso a uma cadeira de rodas. Aos 41 anos de idade, no dia 25 de outubro de 1973, Abebe Bikila morre de hemorragia cerebral. Além de herói nacional, Bikila simboliza o reconhecimento do talento africano no atletismo, mantido até hoje.


O povo africano com sua autoestima elevada, inspirada por Abebe Bikila, e estimulado pelos ventos de mudança e afirmação política que varriam o continente nos anos 60, aproveitou o momento e promoveu a independência de vários países. Esse foi o legado social do “Herói dos pés descalços”, herdado com base em valores como disciplina, heroísmo e determinação.

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