O Livro no Brasil apesar da crise, ainda move o mercado
- Torcedor Cultural
- 29 de out. de 2019
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O ano de 2019 foi importante para o debate do mercado editorial . Apesar da crise e do fechamento de livrarias, existe otimismo de autores e livreiros no Brasil.
Por Fábio Tubino
O Dia Nacional do Livro, celebrado no dia 29 de outubro, foi instituído em homenagem à fundação da Biblioteca Nacional, em 1810, pelos reis de Portugal que, dois anos antes, haviam fugido das tropas do imperador francês Napoleão Bonaparte para o Brasil. Na bagagem, a Família Real trouxe caixas contendo milhares de peças da Real Biblioteca Portuguesa, que deram origem à Biblioteca Nacional do Brasil, hoje considerada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) uma das 10 maiores do mundo e a maior da América Latina.
A crise do Mercado Editorial
O ano de 2019 apresenta o mercado editorial e livreiro do Brasil vivendo uma das maiores crises de sua história. Consideradas gigantes do setor, as redes de livrarias Cultura e Saraiva, responsáveis pela venda no varejo de 40% dos livros no país, entraram em processo de recuperação judicial, fechando lojas em dezenas de cidades, demitindo em massa. Diferentemente do que muitos profetas chegaram a anunciar, existe ainda no Brasil, uma predominância do papel em relação ao livro digital.O desenvolvimento digital cresceu e facilitou vendas, mas ainda não foi determinante para saturar vendas dos livros nas livrarias do Brasil.
Brasileiro lê em média 2,43 livros por ano
A verdade: o público brasileiro ainda não é um dos mais ativos no ramo da Literatura. Segundo as ultimas pesquisas desenvolvida pelo Instituto Pró-Livro, o brasileiro lê em média 2,43 livros por ano. Ainda de acordo com este estudo, 20% da população nunca comprou um Livro. De acordo com a Associação Nacional de Livros em 2018 a procura por livros cresceu 4,2% em relação a 2017. Os gêneros mais procurados foram as HQs, Culinária e Auto-ajuda.
Lançados 3.000 livros novos por mês no Brasil
São lançados mais de 3.000 livros novos por mês no Brasil, sendo impossível todos serem colocados dentro das livrarias, juntamente com os livros antigos. Isso torna extremamente difícil para novos autores se tornarem conhecidos. As editoras se preocupam acima de tudo com o número de vendas, isso faz com que os novos autores para lançarem seus livros busquem parcerias ou financiem seus trabalhos.
O problema da tiragem
O grande problema do preço do livro no Brasil é a tiragem. Em outros países a média das tiragens fica em torno de 10.000 exemplares por edição, já no Brasil são apenas 2.000 exemplares. O preço unitário do Livro então é calculado pela divisão do custo fixo para a produção do número de exemplares. O raciocínio é simples: tiragem baixa, preço alto.
Augusto Cury, o autor brasileiro que mais vende livros no Brasil

Segundo a Nielsen, Augusto Cury foi o autor brasileiro que mais vendeu livros no Brasil na temporada, superando o segundo colocado, Mário Sérgio Cortella, em 200%. Os assuntos do cotidiano se tornam livros, palestras, cursos, para Augusto Cury. O autor participa de cerca de oito concorridas palestras por mês no Brasil e no exterior. O livro O Vendedor de Sonhos, um de seus principais sucessos, a respeito da relação entre um homem maltrapilho e um intelectual que quer se matar, virou filme dirigido por Jayme Monjardim com Dan Stulbach em 2016. Agora, ele quer que sua trilogia iniciada com O Homem Mais Inteligente da História (350 mil exemplares vendidos desde novembro de 2016), que continuou com O Homem Mais Feliz da História (50 mil cópias desde novembro de 2017) e Que será se transforme em seriado internacional com 10 episódios para cada livro. Tem muito mais: O Futuro da Humanidade já tem contrato e está em fase de roteiro. A Felicidade Roubada também já foi acertado. Augusto Cury não precisa dessas adaptações para vender livros, mas é certo que elas impulsionam ainda mais as vendas.
Editoras aproveitam domínio público para relançar obra de Monteiro Lobato

A entrada da obra de Monteiro Lobato em domínio público alavancou o mercado infantil em 2019. Passaram-se 70 anos da morte do escritor, ocorrida em julho de 1948 e, pela lei brasileira, tudo que foi produzido por Lobato pode ser publicado sem necessidade de pagamento de direitos autorais. Livre do compromisso financeiro com os herdeiros, quatro editoras, além da Globo livros, detentora dos direitos até o ano passado, estão com edições renovadas e fresquinhas. Pioneiro na Literatura infantil brasileira, inovador na produção editorial e intelectual engajado, Monteiro Lobato é uma das figuras mais polêmicas e estudadas da produção nacional. Em uma época em que boa parte da escrita para crianças se ancorava em modelos europeus e retomava histórias nada brasileiras, ele criou personagens envolvidos em narrativas que dialogam com a cultura brasileira, com seus mitos e lendas, mas também com a modernidade que mudava os rumos do país naquela primeira metade de século XX. A importância do Lobato em termos nacionais é absolutamente inquestionável. A revolução que ele causou no estilo da narrativa, no modelo de comercialização e na criação desse universo fantástico é um dos marcos da Literatura brasileira. Lobato foi, ainda, muito importante para o mercado editorial. Sabia vender livros e fazia parcerias até com farmácias e alfaiates. Na época, ele era editor e descobriu que o Brasil tinha pouquíssimas livrarias. Walcyr Carrasco, autor da novela Dona do Pedaço, lançou na Bienal do Livro do Rio de Janeiro 2019, adaptações de duas obras de Monteiro Lobato: “Reinações de Narizinho” e “A Reforma da Natureza”. Nos livros, publicados pela Editora Moderna, o novelista propõe um novo olhar sobre a história, substituindo palavras e costumes.
A Literatura infantil sempre fez sucesso no Brasil

O mercado de Livros infantis continuam atraindo e trazendo popularidade aos autores. Além de Monteiro Lobato, fazem sucesso:
Ziraldo - O desenhista, cartunista e escritor, foi o criador da revistas brasileira em quadrinhos. O Menino Maluquinho continua em alta, sempre sendo adaptado para diferentes Mídias.
Ruth Rocha - A escritora é membro da Academia Paulista de Letras e sua obra mais conhecida continua sendo "Marcelo, Marmelo, Martelo”.
Maurício de Sousa - O mais premiado autor brasileiro de histórias em quadrinhos, com mais de 200 personagens,idealizador da “Turma da Mônica, Seus livros passaram a ser publicados em todo o mundo.
Ana Maria Machado: Foi uma das fundadoras, em 1980, da primeira livraria infantil no Brasil, a Malasartes (no Rio de Janeiro). O reconhecimento mundial das obras da escritora aconteceu em 2000, quando recebeu o Prêmio Hans Christian Andersen, o mais importante prêmio de Literatura infantil. Ela já vendeu, em todas traduções, algo em torno de 19 milhões de exemplares.
Paulo Coelho e Jorge Amado, dois fenômenos
Paulo Coelho tornou-se o autor brasileiro mais conhecido no exterior. Sua obra foi publicada em mais de 170 países e traduzida para 81 idiomas, tendo seus livros vendido um total de mais de 210 milhões de exemplares. Jorge Amado (1912-2001) é o terceiro autor da língua portuguesa mais traduzido no mundo. Perde para Paulo Coelho, o primeiro colocado, mas ganha de Clarice Lispector e Machado de Assis. Em levantamento do Index Translationum, lista de traduções de obras literárias organizada pela Unesco desde 1932, existem 421 livros traduzidos do escritor baiano.
A Bienal continua sendo sucesso
Marcada pelo debate a respeito da censura a obras com temática LGBT, a Bienal do Livro do Rio de Janeiro 2019, chegou ao fim com saldo superior a 4 milhões de livros vendidos. Ao longo dos dez dias do evento, mais de 600 mil pessoas passaram pelo Riocentro, na Zona Oeste da cidade. O escritor best-seller Laurentino Gomes elegeu esta a melhor Bienal dos últimos anos.
Escravidão, o novo best-seller de Laurentino Gomes

Depois de narrar a chegada da corte portuguesa ao Brasil, a Independência e a proclamação da República em best-sellers que venderam 2,5 milhões de exemplares (“1808”, “1822” e “1889”), o jornalista e escritor Laurentino Gomes decidiu encarar de frente um tema complexo, mas de enorme interesse . Seu novo livro, lançado na Bienal, Escravidão” (Globo Livros) consumiu seis anos de pesquisa e levou o autor a 12 países de três continentes. A temática História continua popular no Brasil . Em “Escravidão”, Laurentino aplica mais uma vez seu método de ensaios, reportagens,que dão uma visão de conjunto a respeito dos temas destacados.
Clássicos continuam sendo comercializados
Alguns clássicos romanceados da ficção continuam em alta no mercado, muitos são lidos nas escolas e até passam a ser temas de questões nos principais vestibulares do país como:
"Memórias Póstumas de Brás Cubas" de Machado de Assis: Considerado um divisor de águas na literatura nacional, é o livro que marca a transição do romantismo para o realismo.
"Os Sertões" de Euclides da Cunha: Em 1902, o jornalista cobriu a Guerra dos Canudos, no interior da Bahia, e contou no livro tudo o que presenciou no local, além de apresentar uma análise a respeito da terra, no homem e na luta, nos sentidos geográfico, sociológico e histórico.
"Capitães de Areia" de Jorge Amado: A história destaca o grupo de meninos que rondam as ruas de Salvador em busca de sobrevivência. O livro se mantém atual até hoje.
"Vidas Secas" de Graciliano Ramos: A história de uma família que foge da estiagem que aflige o nordeste. Ao retratar a vida desses personagens, incluindo a famosa cachorrinha Baleia, o escritor alagoano traz luz ao seu lado mais humano e emocional, contrastando com a dureza dos acontecimentos narrados.
"Grande Sertão: Veredas" de João Guimarães Rosa: O livro, lançado em 1956, apresenta uma visão subjetiva e profunda do sertão mineiro, na qual o personagem Riobaldo narra sua trajetória de vida como jagunço. De maneira não linear, a narrativa mostra a experimentação linguística e o uso da temática regionalista, que formam, assim, uma criação singular.
Biografias fazem sucesso
No mercado literário brasileiro, vale ressaltar publicações biográficas. Personagens marcantes e artistas atraem o consumo popular. Recentemente dois livros foram lançados com grande número de vendas.
"Rondon - Uma Biografia" o jornalista Larry Rohter mostra para o leitor a amplitude do legado de Cândido Rondon para o país e os povos indígenas.
"Prologo, Ato, Epilogo: Memórias" de Fernanda Montenegro que no marco de seus noventa anos, traz o depoimento de uma artista eternamente querida pelo público.
Se espera que o mercado possa se reinventar, que os brasileiros valorizem seus autores e livros. Vamos acompanhar o que nos reserva os próximos anos.
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