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Livro promove debate de narrativas da Pós-verdade e dos Fake News

  • fabiotubino0
  • 5 de nov. de 2019
  • 5 min de leitura

O fenômeno das notícias falsas tornou-se uma constante em todo mundo e vem influenciando diretamente processos eleitorais e promovendo uma onda de desinformação que preocupa profissionais e autoridades.


Foto: Fábio Tubino

Por Fábio Tubino


Foi no dia 31 de outubro na Livraria Travessa em Ipanema com um debate o livro Pós-verdade e Fake News – Reflexões sobre a Guerra de Narrativas, organizado pela jornalista Mariana Barbosa.






Conceitos complementares

Em 2016, a Oxford Dictionaries, departamento da Universidade de Oxford responsável pela elaboração de dicionários, elegeu a Pós-verdade como a palavra do ano na língua inglesa. Segundo a mesma instituição, o termo com a definição atual foi usado pela primeira vez em 1992 pelo dramaturgo sérvio-americano Steve Tesich. e tem sido empregado com alguma constância desde meados da década de 2000, mas houve um pico de uso da palavra com o crescimento das mídias sociais. As Fake News são notícias falsas publicadas por veículos de comunicação como se fossem informações reais. Esse tipo de texto, em sua maior parte, é feito e divulgado com o objetivo de legitimar um ponto de vista ou prejudicar uma pessoa ou grupo (geralmente figuras públicas). As Fake News têm um grande poder viral, isto é, espalham-se rapidamente. As informações falsas apelam para o emocional, fazendo com que as pessoas consumam o material “noticioso” sem confirmar se é verdade seu conteúdo. O termo Fake News ganhou força mundialmente em 2016, com o processo eleitoral presidencial dos Estados Unidos, época em que conteúdos falsos a respeito da candidata Hillary Clinton foram compartilhados de forma intensa pelos eleitores de Donald Trump. Apesar do recente uso do termo Fake News, o conceito desse tipo de conteúdo falso vem de séculos passados e não há uma data oficial de origem. A palavra “fake” também é relativamente nova no vocabulário, como afirma o Dicionário Merriam-Webster. Até o século XIX, os países de língua inglesa utilizavam o termo “false news” para denominar os boatos de grande circulação. Dois conceitos complementares: de um lado a Pós-verdade, relacionado com o problema da fonte da notícia querer modelar a opinião pública. Do outro as Fake News, fenômeno relacionado com a mídia, iniciado com a Internet e mídias sociais no qual conteúdos intencionalmente enganosos são viralizados para se obter ganhos financeiros ou políticos.


Os Autores do Livro


Foto: Fábio Tubino

Fernanda Bruno - Pesquisadora do CNPQ desde 2007 e membro fundadora da Rede Latino -Americana de Estudos em Vigilância, Tecnologia e Sociedade/Lavits. Tatiana Roque - Matemática, filósofa e professora da UFRJ. Francisco Brito Cruz - Doutor e mestre em Direito pela USP. Especialista no monitoramento de Políticas públicas ligadas à tecnologia . Eugênio Bucci - Jornalista e escritor. . É professor da Escola de Comunicações e Artes da USP. Dora Kaufman- Economista e escritora, professora da PUC SP, doutora em redes digitais. Gilberto Scofield - Jornalista, ex diretor da Ancine, diretor de Estratégia e Negócios da Agência Lupa . Alexandre Sayad - Jornalista e escritor, diretor da consultoria ZeitGeist. Ronaldo Porto JR - Procurador de Justiça do MP de SP, professor da USP. Joel Pinheiro - Economista e filósofo, colunista da Folha de SP e da Revista Exame. Peter Warren Singer - cientista político e especialista em relações internacionais. Patrícia Campos Mello - Jornalista e escritora Mariana Barbosa - Jornalista com especialização em política internacional.

Resenha do Livro livro Pós-verdade e Fake News – Reflexões sobre a Guerra de Narrativas

A obra traz uma coletânea de oito artigos e ensaios e duas entrevistas destacando a desinformação que tentam dialogar com a nova lógica que tomou conta da sociedade, especialmente a partir do avanço da tecnologia e da facilidade em se compartilhar dados. Um livro que destaca o jornalismo, a desinformação do ponto de vista jurídico, social, psicológico com especialistas de várias linhas


Trechos interessantes do Livro - Os artigos


Isso A Imprensa não mostra - Mariana Barbosa / pag 7

" A era das redes sociais começou com a promessa de libertação e empoderamento de minorias, mas parece estar nos levando para as trevas da desinformação"

A Ponta de um Iceberg de Desconfiança - Fernanda Bruno e Tatiana Roque/ pag 15

"Estudos de psicologia, como os de Stephan Lewandowsky, mostram que uma informação tida inicialmente como válida continua a influenciar o julgamento das pessoas, mesmo se provada falsa"

Fake News definem uma Eleição - Francisco Brito Cruz/ pag 25 "Na saída do regime militar, a principal personagem da comunicação política foi a Televisão."

News não são Fake - E Fake News não são News - Eugênio Bucci / pag 41 " A mentira de imprensa é tão antiga quanto a imprensa. Também em livros, a mentira dolosa é tão velha quanto a invenção de Gutenberg"

A Inteligência Artificial Mediando a Comunicação : Impactos da Automação- Dora Kaufman / pag 56 "O Facebook monetiza sua gigantesca base de dados utilizando algoritmos de IA capazes de mapear a personalidade dos usuários, segundo informação da plataforma, com 80% de precisão. "

Desconstruindo as Fake News: O Trabalho das Agências de Fact - Checking -Gilberto Scofield / pag 64 " A checagem de fatos como prática jornalística demorou para entrar no radar dos veículos de imprensa no Brasil. Esse movimento começa a partir da campanha eleitoral de 2004, quando por iniciativa da jornalista Cristina Tardáguila, o jornal O Globo põe no ar um blog de checagem chamado Preto no Branco, inspirado no modelo argentino do Chequeado."

Idade Mídia: Uma Idade Média Às Avessas - Alexandre Sayad/ pag 70 "O filósofo Pierre Lévy, em seu livro Cibercultura, de 1997, foi um dos primeiros a alertar que uma educação que olha para o mundo deve considerar também a sua dimenção digital "

Liberdade de de Expressão ou Dever de Falar a Verdade ? - Ronaldo Porto JR / pag 79 " A jurisprudência e a teoria do direito mais liberal dominante nos Estados Unidos desde há muito têm entendido que a liberdade de expressão é incompatível com o dever de dizer a verdade e com a possibilidade de se censurar a mentira"

Fake News e o Futuro da Nossa Civilização - Joel Pinheiro / Pag 91 " O homem é um animal político . Um animal que se organiza em sociedade e busca aumentar o seu poder "


Debate com autores

No debate realizado antes do lançamento, participaram a organizadora Mariana Barbosa, Tatiana Roque e Gilberto Scofield . Mariana destacou que a disseminação de mentiras tem colocado à prova a própria noção de verdade, revelando uma inquietante perda de confiança em instituições que em outros tempos eram portadoras da verdade, a imprensa, a ciência e as elites intelectuais em geral. Vale ressaltar que Mariana foi correspondente em Londres, uma cidade onde se cria muita informação, inclusive falsa. Tatiana Roque disse que vale considerar que 24% de eleitores brasileiros compartilham notícias políticas por WhatsApp e que desta forma pode-se dimensionar a influência no processo eleitoral. Tatiana comentou a interatividade das redes sociais. O jornalista Gilberto Scofield que trabalha na Agência Lupa, especializada em desmentir notícias falsas que circulam nas redes, aponta que passou a ser muito complicado tentar criminalizar o compartilhamento de Fake News, ainda que seja possível localizar a produção destas com a ajuda da tecnologia com alguma facilidade.


De fato vivemos a era da Pós-verdade e dos Fake News com intensas instabilidades políticas e econômicas, que se repetem no mundo A educação, o treinamento para o pensamento crítico é um caminho, mas muito complicado. Um livro recomendado pela reflexão.

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