Futebol de Mesa: um jogo de todas as idades
- Torcedor Cultural
- 10 de mar. de 2020
- 6 min de leitura
Por Fernando Garrido

De acordo com registros históricos, o futebol de mesa teria surgido no Pará, no início do século 20. O uso de botões de roupa para praticá-lo teria dado origem ao nome futebol de botões, denominação empregada até hoje. Segundo informações fidedignas sobre o começo do jogo no Brasil, já havia partidas de futebol de mesa no América Futebol Clube (AFC), no Rio de Janeiro, em 1917.
A origem do esporte é cercada de informações contraditórias, segundo as quais o jogo pode ter surgido em diversos países. Na Espanha, teria sido criado por José Huelva Quintero em 1900. Na Hungria, também no mesmo ano, o esporte teria surgido na versão chamada gombfoci (em português, futebol de botão). Na França, o futebol de mesa teria sido inspirado no jogo de pulgas e, finalmente, na Inglaterra, teria aparecido em 1910.
Outra história afirma que marinheiros o trouxeram para o Brasil e se divertiam disputando partidas como passatempo depois de suas viagens e durante a estada nas cidades portuárias do país.
A versão mais aceita é a de que o jogo de botão no país teria surgido no Rio de Janeiro, na década de 1930. O seu criador teria sido o carioca Geraldo Cardoso Décourt, que promoveu mudanças no material utilizado na confecção das mesas, criou as regras do jogo e deu-lhe o nome de futebol celotex. No início, os botões usados eram de madeira (confeccionados de forma artesanal) e de roupas. Logo, porém, surgiram os de plástico.
O jogo de botões foi imediatamente aceito, difundindo-se no país como divertimento a partir da década de 1930. Com o tempo, foi ganhando novos tipos de equipamento e material. Surgiram diversos formatos de bola e espécies de botão e de piso. Ampliou-se também a quantidade de toques na bola, o que trouxe novas regras e novos regulamentos ao esporte. Entre os vários tipos de botão utilizados, encontravam-se os de osso, os de paletó, os Paulo Caminha e os feitos com capas de relógio.

O futebol de mesa cresceria expressivamente na década de 1950. O desenvolvimento da industrialização no país favoreceu a produção de equipamentos e materiais em escala. Aumentaram também a fabricação e a oferta de jogos de botão de plástico, principalmente aqueles com faces de jogadores e escudos de times brasileiros.
Os botões conhecidos como Bolagol e confeccionados pela Plásticos Santa Marina tornaram-se famosos. As caixas com um ou dois times deram o nome de Futebol Miniatura ao esporte. Essa coleção alcançou cerca de 130 times, compreendendo equipes brasileiras, estrangeiras e seleções. Apareciam novas coleções, com times de jogadores que integravam a seleção brasileira. A Onze de Ouro, por exemplo, era ilustrada com as seleções de 1958 e 1962 e vendida em bancas de jornal.
A indústria Estrela produzia o botão Canoinha na década de 1970. Outro botão que marcou época foi o da série Craques da Pelota, também vendido em bancas de jornal. A série Ídolos do Futebol era encontrada em grandes magazines, e a Gulliver teve variações como o botão Cristal. Ainda nessa década, surgia o botão de acrílico.
O esporte crescia e estruturava-se hierarquicamente em clubes e entidades de caráter nacional nas modalidades existentes.
A primeira organização dirigente estadual, a Federação Paulista de Futebol de Mesa (FPFM), somente seria criada em 1962.
O primeiro campeão brasileiro de futebol de mesa – modalidade disco (um toque) e categoria livre – foi Átila de Menezes (SE). O evento foi realizado em Salvador (BA), em 1970.
Depois de serem realizados vários torneios, como o Torneio Rio-Brasília em 1979, surgia a Federação Brasiliense de Futebol de Mesa (FBFM), que adotava a regra dos três toques.
O 1º Campeonato Brasileiro de Futebol de Mesa – Categoria Individual – teve início em 1980, no Rio de Janeiro, com bola de feltro. O evento foi realizado na sede social da Rio Futebol de Mesa e da Associação Carioca de Futebol de Botão (ACFB). Dele participaram o Distrito Federal e os estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Amazonas.
A padronização do jogo de futebol de mesa na regra de três toques ocorreu durante o 1º Campeonato Brasileiro Interclubes de Futebol de Mesa, realizado em Brasília (DF) entre 5 e 8 de fevereiro de 1981.
Em 1982, era fundada a Federação de Futebol de Mesa do Estado do Rio de Janeiro (Fefumerj).
A seriedade com que o jogo vinha sendo conduzido no país levou o Conselho Nacional de Desportos (CND) a reconhecê-lo como esporte por meio da Resolução nº 14, de 29 de setembro de 1988, e sob o nome futebol de mesa. Nessa ocasião, foram oficializadas três regras: 1 toque (disco/baiana), 3 toques (bola/carioca) e 12 toques (bola/paulista).
A reorganização do esporte consolidou-se com a criação da Confederação Brasileira de Futebol de Mesa (CBFM) em 1992. A nova estrutura era constituída por vice-presidências, que representavam cada uma das modalidades, e uma Coordenação de Regras Experimentais.
O desenvolvimento do futebol de mesa tem sido amparado por um calendário anual de eventos nacionais, estando em disputa várias competições, como a Taça Brasil, a Copa do Brasil e os Campeonatos Brasileiros, tanto individualmente quanto por equipes. Além disso, são disputados os Campeonatos Mundiais, os Sul-Americanos e as Copas Regionais.
A presença do futebol de mesa brasileiro em competições mundiais desde 2006 favoreceu a participação contínua dos atletas em disputas internacionais. Em 2009, surgia o 1º Campeonato Mundial de Futmesa de Seleções, evento que tem ocorrido a cada três anos nas modalidades 12 toques e sectorball.
O intercâmbio entre países promoveu a difusão das modalidades jogadas na Europa e no Brasil. Os primeiros campeonatos brasileiros de futebol de mesa na modalidade sectorball ocorreram em 2011 e na subbuteo, em 2013. Em 2011, a modalidade dadinho foi reconhecida pela Coordenação de Regras Experimentais da CBFM.
Em 2014, teve início o Campeonato Mundial Interclubes, na Hungria. Na ocasião, a equipe de futmesa do Clube de Regatas Vasco da Gama (CRVG) sagrou-se campeã mundial ao vencer o campeão europeu Tiszavasvari na final do Campeonato Mundial de Clubes, modalidade 12 toques. A equipe era integrada por Igor Monteiro, Marcelo Lages, Renato Kort (o Bad) e Rodolfo Castello Branco.
A segunda edição do Mundial Interclubes, em 2016, foi vencida por outra equipe brasileira. O futebol de mesa da Sociedade Esportiva Palmeiras (SEP) derrotou os húngaros do Debreceni ALC, campeões europeus, pelo placar de 40 a 7, no CRVG, no Rio de Janeiro. O time foi formado por Michilin (12 pontos), Paolo (10), Jefferson Genta (9) e Alex Bahr (9).
Descrição Conceitual
O futebol de mesa é disputado entre dois oponentes ou por equipes, em uma mesa com dimensões oficiais. O jogo transcorre de acordo com as regras estabelecidas para cada uma das modalidades existentes, com variações de: tempo de jogo, intervalo de descanso, bola, toques na bola e jogadores. Os botões são movimentados com o uso de palheta, pente ou unha.
O jogo ocorre com o deslocamento dos botões tocando as bolas, os discos ou os dados, além de chutes/arremessos (chutes/tiros) a gol contra a meta adversária. O objetivo do jogo é manter a posse da bola e marcar o maior número de gols.
No futebol de mesa de um toque, cada jogador toca o disco uma vez, em dois tempos de 25 minutos.
O jogo de três toques é praticado com bola de feltro, e cada jogador somente pode dar três toques na bola.
O jogo de 12 toques também é praticado com bola de feltro, e o desenvolvimento das jogadas até o gol do adversário deve ser feito em até 12 toques coletivos, não podendo exceder três toques por cada um dos seus botões.
O dadinho é executado com um pequeno dado e requer habilidade para que sejam realizados um máximo de três palhetadas consecutivas por botão e outro, de nove palhetadas coletivas, devendo-se obrigatoriamente chutar a gol até a nona palhetada.
O sectorball é praticado com uma pastilha. Demanda precisão técnica do jogador para realizar os passes até o campo adversário e chutar a gol em até 6 centímetros dos seus botões.
O subutteo é jogado com bonecos semelhantes à imagem humana montados sobre bases semiesféricas. A bola é impulsionada por meio de um peteleco com a unha do dedo indicador ou médio.
Organização no Brasil
O futebol de mesa é dirigido e organizado pela Confederação Brasileira de Futebol de Mesa (CBFM).
Organização Internacional A Federação Internacional de Futebol de Mesa (FISTF) e a Federação Internacional de Sectorball (ISF) são as entidades mundiais máximas do esporte.
Fernando Garrido é Doutor em Ciências Navais pela Escola de Guerra Naval, Mestre em Educação Física pela Universidade Gama Filho, Autor do Dicionário Enciclopédico Tubino do Esporte, Pesquisador, Professor e Conferencista.
Comentarios