Criança e Compromisso
- Torcedor Cultural
- 8 de out. de 2019
- 6 min de leitura
Atualizado: 9 de out. de 2019
Artigo de Manoel José Gomes Tubino
Manoel José Gomes Tubino foi presidente da Fédération Internationale D'Education Physique (FIEP), Vice-Presidente do Concelho Federal de Educação Física e nos anos 80, presidiu o Conselho Nacional de Desportos. Deixou esta vida em 2008.
Em homenagem ao Dia das Crianças celebrado em 12 de outubro no Brasil, o Torcedor Cultural resgata o artigo de um dos maiores pensadores do mundo.
A criança é alvo de um debate muito intenso desde o início da segunda metade do século XX.

Logo após o fim da II Guerra Mundial, quando a intelectual idade começou a identificar o período chamado Pós Moderno. Iniciou-se um período histórico de criação de novas metodologias de aprendizagem centradas nos alunos, isto é, nas crianças e adolescentes e, principalmente, um período de discussão sobre os compromissos da sociedade com as crianças e as gerações futuras. Talvez a chegada da complexidade, como mostrou Edgar Morin, tenha provocado a renovação do debate, agora num novo contexto, sobre os compromissos da sociedade diante destas crianças e das gerações futuras. É evidente que a busca de um mundo melhor para as crianças precisa passar pelos grandes problemas atuais da Humanidade.
Compromisso da Sociedade Atual com as Crianças, Um Mundo Melhor
A Melhora da Biodiversidade, da distribuição de renda, da Educação mais adequada, a Busca de uma Cultura de Paz, a redução dos problemas específicos da infância, o Papel da Educação Física e do Esporte diante da Criança. A análise destes procedimentos e ações podem promover um processo de melhoria contínua.
Os Graves Problemas do Mundo contemporâneo
Pode-se listar os problemas da contemporaneidade mais denunciados internacionalmente pelos cientistas políticos para uma configuração das dificuldades encontradas no planeta. Alista é a seguinte: a) Adestruição da Biodiversidade; b) O grande problema demográfico; c) O problema efetivo da Educação; d) Os grandes problemas das crianças; e) Aquestão da Cultura de Paz.
A destruição da Biodiversidade - O conceito de Biodiversidade estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU), no Rio de Janeiro (1992) mostra que ela é formada pelos recursos de reprodução silvestre que são usados e são propriedades genéticas pelos ecossistemas terrestres e marítimos. Há também o reconhecimento internacional de uma biodiversidade cultural e outra biodiversidade agrícola, a qual abrange a reprodução das terras cultivadas. Sabe-se que 90% das calorias ingeridas pela população mundial compreendem os 20 produtos agrícolas mais cultivados.
A preocupação com o aumento de recursos naturais é explicada historicamente pelas expedições de portugueses, engenheiros e ingleses na metade do milênio passado, pelo avanço dos países europeus (Inglaterra, França e Portugal) para a África e a investida dos colonos norte-americanos para as terras indígenas.
Por outro lado, a preocupação sobre a destruição da biodiversidade começou a ocorrer na década de 1960. Na conjuntura mundial de hoje, usa-se como critério medir a riqueza na biodiversidade a riqueza de espécies existentes e a capacidade potencial das espécies para transformar-se em recursos. Neste critério, os países mais ricos em biodiversidade são: Brasil, Colômbia, México, Madagascar e Malásia.
As causas e ameaças à Biodiversidade começam pelo progresso da Biotecnologia que tem apresentado falhas na segurança de produtos patogênicos, que continua multiplicando transgênicos, isto é,organismos geneticamente manipulados, e terminam nas implicações bélicas, que nunca se reduziram nas últimas décadas. A Biotecnologia nutre-se da diversidade genética. Outras causas e ameaças recaem sobre as substituições das florestas nativas por monoculturas e o avanço incessante das indústrias multinacionais, que pouco a pouco vão privatizando os recursos biológicos.
A destruição da Biodiversidade pode ser explicada pelo desflorestamento, pelas mudanças climáticas provocadas e pelo problema água. Percebe-se, pela análise dos dados da ONU, que há um processo continuado
de substituição de florestas (ecossistemas) pela plantação de monoculturas. As outras causas da degradação florestal são: o corte, a criação do gado, a urbanização, a construção de infra-estrutura, a exploração do petróleo,
as chuvas ácidas, os incêndios e os assentamentos sem planejamento. As mudanças climáticas provocadas, do tipo sistêmico, de nível global, têm como sintomas a diminuição da camada de ozônio e o aquecimento
atmosférico. As mudanças acumulativas, em espaços menores, apresentam como sintomas a desertificação e o desmatamento. Quanto à água, o seu consumo mundial cresceu muito ultimamente e cada vez está mais
vulnerável à poluição. Além de problemas de saneamento, falta água em muitas cidades grandes. Existem somente 217 rios e isto atende apenas 47% da população mundial.
O grande problema demográfico - o cientista político Paul Kennedy, nos seus estudos, verificou que a Tecnologia é a base da solução dos problemas dos países desenvolvidos, enquanto que os países subdesenvolvidos importam tecnologia para as suas soluções. Observou também que as populações
subdesenvolvidas são crescentes enquanto que as populações desenvolvidas são decrescentes. Este quadro projetado por Kennedy denuncia as conseqüências do problema demográfico mundial.
O debate do problema demográfico, historicamente, passou por algumas etapas:
a) Até a metade do século XX → Aconteceu a distribuição espacial da população. b) Depois da II Guerra → O aumento da população justificava o subdesenvolvimento; era defendido o planejamento familiar; o 3º mundo acusava os países ricos pelos desajustes populacionais. c) Depois de 1975 → O debate passou a ser o controle de Natalidade; medidas pró-natalidade nos países desenvolvidos. d) O Debate atual → Está centrado na relação com a injusta distribuição de renda. Atualmente, o grande problema demográfico do mundo situa-se na Mortalidade Infantil e na expectativa de Vida.
O problema da Educação O problema da Educação tem como pressuposto a mudança conceitual que deixou a perspectiva terminalista para uma perspectiva de continuada. O Analfabetismo decrescente está sendo substituído por outro tipo de analfabetismo: o analfabetismo tecnológico ou digital.
Os grandes problemas da criança
Embora tenham melhorado a imunização das crianças, ainda 10% dos falecimentos ocorrem com crianças de menos de 5 anos. Aamamentação é considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como a chave para a nutrição infantil. Existem outros dados da UNICEF que são impressionantes: 30% a 50% da população infantil de 35 países mais pobres não têm acesso a centros de saúde; a diarréia mata 14 vezes mais em crianças que não usam leite materno. O Trabalho Infantil é outra grave distorção no mundo de hoje, pois 246 milhões de crianças, entre 5 e 17 anos, trabalham, onde 4 milhões estão nas piores formas de trabalho, principalmente na África, Ásia, América Latina e Caribe. Muitas crianças trabalham em esquemas de risco como: tráfico de drogas, trabalho domestico,exploração sexual, narcoplantio, tráfico de crianças e trabalhos forçados. No Brasil, 6.6 milhões de crianças trabalham.
A busca de uma Cultura de Paz
No quadro de muitos conflitos (Oriente Médio, Guerras Étnicas, Guerras Religiosas, Guerras Econômicas, Conflitos Nacionais Internos, Terrorismo, Avanço do Narcotráfico), a busca de uma Cultura de Paz tornou-se cada vez mais imperativa, tentando um mundo mais pacífico para as crianças de hoje e futuras gerações. A ONU e a UNESCO têm sido incansáveis nesta tentativa de desenvolver uma Cultura de Paz na Humanidade.
O Papel da Educação Física e do Esporte

A Educação Física, que teve uma profunda mudança conceitual com o lançamento do Manifesto Mundial FIEP 2000 de Educação Física, passou a defender o desenvolvimento de um estilo de vida ativo nos jovens, principalmente crianças, o qual permite uma internacionalização dos valores de uma Educação Física bem conduzida. O conceito de Educação Física, no artigo segundo deste documento, remete para a busca e desenvolvimento deste estilo de vida ativo. O Esporte, também considerado um direito de todos pela Carta Internacional de Educação Física e Esporte (UNESCO, 1978), ao considerar as práticas esportivas como direito de todos, nas formas de exercício deste direito, passou a compreender o Esporte-Educação, o Esporte-Lazer e o Esporte de Rendimento. O Esporte-Educação, para as crianças, pode ser sob a forma de Esporte Educacional ou de Esporte Escolar. O Esporte Educacional, para todos, é referenciado em princípios sócio-educativos, enquanto que o Esporte Escolar, para aqueles de mais talento, prescreve o desenvolvimento esportivo das crianças, sem perder de vista a formação para a cidadania. O Esporte para crianças tem que ser muito cuidadoso, devido as suas possíveis deformações. A esse respeito o Panathlon Club, no Congresso Mundial de Avignone, em 1995, estabeleceu a Carta dos Direitos da Criança no Esporte, a qual apresenta diretrizes para o respeito às crianças nas suas atividades esportivas.
Pelo que foi exposto neste estudo, pode-se concluir que o compromisso com as crianças deve ser sempre a partir da redução dos graves problemas contemporâneos acrescidos de ações efetivas relevantes como o desenvolvimento de uma Cultura de Paz e um uso continuo e adequado da Educação Física e do Esporte
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